terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Fazer mercado em Luanda

Geral sabe que fazer mercado em Angola é uma odisséia. A gente tem que lidar com atendimento do mal, preços do mal, falta de produtos do mal. Eu não quero reclamar... mas já reclamei. Surpresa zero dizer que o caos começa na hora de estacionar, e para ilustrar vou contar um causo que me aconteceu lá no Frescos da Vila Alice, que como o nome diz, é mercado de gente enjoadinha.
O Frescos não tem estacionamento, mas tem um bando de manobristas freelancer (if you know what I mean). É descer do carro pra ouvir uns três gritando: "madrinha, tá seguro, eu sou fulano". Parece que batizei metade dos maranjos de Luanda, e nem lembro.
Feitas as compras (comprei codorninha e kani kama), sai eu, Carol e Zana correndo do mercado directo pro carro. Planeamento padrão: entra-se no carro, trava-se as portas, dá-se a partida... dá-se a partida... dá-se a partida. Pato-que-o-pariu, foi-se a bateria! Nisso, meu afilhado já tá batendo no vidro: "madrinha, 200 (kwanza) não dá, falta 100". Olho em volta: "alguém pagou alguma coisa?". Não! Afilhado hoje não tá podendo com a contabilidade.
Dentro do carro, a gente tenta relaxar, curtindo uma sauna mara na espera da boleia. Afilhado do lado de fora entra em estado de compaixão, e fica contando o ponteiro do "nosso" (oi?) velocimetro (parado) em voz alta, tipo bem alta: "20, 30 70, 80, pronto, agora pode ir!"
- 20, 30, 70, 80, pronto, agora pode ir!
Tava tão ritmado que a gente gravou pra usar de toc de telelé*. Ele tanto insistiu, que conseguiu (quem insiste sempre alcança). "Tá bom, afilhado, vou tentar dar a partida outra vez!" E vou te contar, rap de afilhado alucinado é tipo dança da chuva: realiza!


* Telelé é apelido de telemóvel, que é o mesmo que celular.

Pra fazer justiça: lá nos Frescos o atendimento é do bem, tem todo tipo de produto dentro da data de validade... só os preços são do mal, mas isso é Luanda.

3 comentários:

  1. Thaís,
    Tô aqui alagando a cadeira de rir.
    Pois é. Em Luanda são estes marmanjos faking de manobristas te chamando de madrinha. Quedizê, o nível de familiaridade não é tão próximo.
    Já em Santos, o flanelinha te chama de tia (na melhor hipótese chamam de patroa) e em Salvador te chamaria de mamãe ou mãezinha.
    Bjs.

    ResponderExcluir
  2. Minha nossa... tá me assustando =0 kkk
    Qta aventura e emoção!!! rs

    ResponderExcluir
  3. não tem como não rir das desgraças da Thaís.
    Ela é muito "muleca". Adoro.
    Em Brasília os flanelinhas chamam a gente de madame. Pelo menos não é tia, madrinha, mainha...rsssss. Olha, "nós sofre, mas nós goza"

    Beijos

    ResponderExcluir