Geral sabe que fazer mercado em Angola é uma odisséia. A gente tem que lidar com atendimento do mal, preços do mal, falta de produtos do mal. Eu não quero reclamar... mas já reclamei. Surpresa zero dizer que o caos começa na hora de estacionar, e para ilustrar vou contar um causo que me aconteceu lá no Frescos da Vila Alice, que como o nome diz, é mercado de gente enjoadinha.
O Frescos não tem estacionamento, mas tem um bando de manobristas freelancer (if you know what I mean). É descer do carro pra ouvir uns três gritando: "madrinha, tá seguro, eu sou fulano". Parece que batizei metade dos maranjos de Luanda, e nem lembro.
Feitas as compras (comprei codorninha e kani kama), sai eu, Carol e Zana correndo do mercado directo pro carro. Planeamento padrão: entra-se no carro, trava-se as portas, dá-se a partida... dá-se a partida... dá-se a partida. Pato-que-o-pariu, foi-se a bateria! Nisso, meu afilhado já tá batendo no vidro: "madrinha, 200 (kwanza) não dá, falta 100". Olho em volta: "alguém pagou alguma coisa?". Não! Afilhado hoje não tá podendo com a contabilidade.
Dentro do carro, a gente tenta relaxar, curtindo uma sauna mara na espera da boleia. Afilhado do lado de fora entra em estado de compaixão, e fica contando o ponteiro do "nosso" (oi?) velocimetro (parado) em voz alta, tipo bem alta: "20, 30 70, 80, pronto, agora pode ir!"
- 20, 30, 70, 80, pronto, agora pode ir!
Tava tão ritmado que a gente gravou pra usar de toc de telelé*. Ele tanto insistiu, que conseguiu (quem insiste sempre alcança). "Tá bom, afilhado, vou tentar dar a partida outra vez!" E vou te contar, rap de afilhado alucinado é tipo dança da chuva: realiza!
* Telelé é apelido de telemóvel, que é o mesmo que celular.
Pra fazer justiça: lá nos Frescos o atendimento é do bem, tem todo tipo de produto dentro da data de validade... só os preços são do mal, mas isso é Luanda.