Que português é sem noção, isso todo brasileiro sabe (corta pra cena de Thais sendo linchada na rua). Mas aqui em Angola a gente consegue medir de régua quão fora da casinha são eles, e na prática, dentro das nossas póprias residências.
Ignora o fato de que só temos energia elétrica porque algum ser iluminado (vixi, um trocadalho) inventou o gerador, e que 82,4% dos banhos tomados por mói (lê-se muá, seu inguin-norante) são de canequinha com uma aguinha de bidão* que parece que é feita ou de cloro ou de poça d’água (a escolha do freguês). Isso não é culpa SÓ dos tugas, a guerra civil contribuiu bastantão pra infra-estrutura nota -5.
Culpa dos tugas é eu estar felizona da vida, cantando o meu refrão preferido do Seu Jorge com a Dona Ana (Eu não sei paraaaaaaaaaaar de te olhar), no meio da minha ducha quentinha (17,6% das vezes), e de repente, como que por mágica, ser surpreendida por uma escuridão gritante de filme de terror. Como? Quando? Por que? Por que os portugueses, sagazes que só eles, decidiram que o lugar do interruptor é do lado de fora do banheiro. Bah! … Revoltante, não é mesmo? Quer ver então, quando vc divide apê com uma roomate que te ama-de-paixão, e que, assim, sem querer, apaga a luz toda vez que vc está cantando “Eu não sei paraaaaaaaaaar de te olhar”. Até desafino!
Repara que isso é detalhe e tem coisa pior. Exemplo: a fechadura funciona ao contrário, ou seja, pra abrir, a chave vira em sentido horário, e pra fechar, em sentido anti-horário. Entendeu? Nem eu. Pois são anos e anos de vida (aix, nem é tanto assim) abrindo a porta de um jeito X, pra de repente ter que reprogramar todo um cérebro pra girar do outro lado. Eu até raciocino, mas meu corpo está no automático e não acompanha. É como se eu decidisse que direita virou esquerda e esquerda virou direita. (Ok, péssimo exemplo, isso ainda me confunde). É como se me dissessem que scarpin é rasteirinha e rasteirinha é scarpin. Não computo, entende? Já não basta ter feito faculdade, pós graduação, ter escrito toda uma tese de mestrado (dentro da minha cabeça), tenho mesmo que racionalizar mais isso? Pou-pe-me!
Glossário anexo:
*Bidão: Reservatório de água ne-ces-sá-rio para a vida de qualquer expatriado em Angola, porque a gente fica sem ar, mas não fica sem banho. Objetivo: Encher as canequinhas. Geralmente abastecido pela diarista da casa (pode até ser feito de cuspe, que a gente nunca vai saber a procedência). Água tratada? Ah, tá. É a Q-boa nosso de cada dia, e pronto! Ainda assim, o número de “micóbrios” mortos é tão grande que se a gente olhar com atenção consegue enxergar os cadáveres amontoados lá no fundo. O pior é que a família deles fica velando em volta.
*Bidão: Reservatório de água ne-ces-sá-rio para a vida de qualquer expatriado em Angola, porque a gente fica sem ar, mas não fica sem banho. Objetivo: Encher as canequinhas. Geralmente abastecido pela diarista da casa (pode até ser feito de cuspe, que a gente nunca vai saber a procedência). Água tratada? Ah, tá. É a Q-boa nosso de cada dia, e pronto! Ainda assim, o número de “micóbrios” mortos é tão grande que se a gente olhar com atenção consegue enxergar os cadáveres amontoados lá no fundo. O pior é que a família deles fica velando em volta.
Foto de prédio acabadinho by MaLu Claúdio.