domingo, 17 de maio de 2009

Já que falávamos de comida...

Sabe a seção de importados do seu supermercado preferido? Aquela caríssima, cheia de produtinhos interessantes, tipo “Green goose’s liver juice” (que você só descobre que não é limonada concentrada depois que já trouxe pra casa)?

Pois imagine que os mercados de Luanda são enormes seções desses importados. Acontece que Angola não tem fábrica, só estaleiros e empreiteiras. De modo que, tirando os produtos da Nestlé que são balaio e tem em todo lugar, as outras mercadorias são coisas bem loucas vindas de países que a gente nem lembra que existe, tipo Letônia, Estônia e Lituânia. É tudo super caro. Em uma comprinha de 10 itens, gasta-se 50 dólares brincando.

Mas é tão divertido, tão kinder ovo, abrir as embalagens pra descobrir as surpresas que vêm dentro. É o caso do Pomodori Pelatti: uma latinha “prática, normal” de molho tipo pomarola com tomatinhos desenhados no rótulo. Quando a gente abre a lata se depara com um tomatão gigante, sem pele, nadando na água. Pensamento instantâneo: Quéco faço com isso, Meus Deus? Tem também o “Puré de papas en polvo”. Não precisa descascar, cozinhar, espremer. É só acrescentar leite fervido ao pózinho de batata e ele se transforma, feito mágica, num purê perfeito (uau!). In-crí-vel!

É unanimidade entre os brasileiros espalhados pelo mundo (segundo pude constatar no http://tutacucapetaaa.blogspot.com/) que “o enlatado é o melhor amigo do expatriado”. Estamos todos longe de casa, com sono, com fome, desamparados, sem mamãe pra cozinhar e com um abridor de latas na mão: está feita uma refeição. E a variedade de enlatados por aqui é uma verdadeira loucura. Tem caldeirada de polvo enlatada, sardinha com maionese de batatas enlatada, salada de frutas tropicais enlatada, macarronada com almôndegas enlatada, cuca de nata enlatada, cachorro quente de vina enlatado, etecetera, etecetera, etecetera. Tudo enlatado.

Enquete: o que você gostaria que viesse na latinha?

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Comer em Luanda.

As pessoas vivem me perguntando qual a comida típica de Angola e eu respondo: é o Funge. Cogumelo (alucinógeno), certo? Errado! Funge consiste em um mingau “cola tenaz” feito de água com farinha de mandioca. Água, farinha de mandioca e mais nada. Sem sal, sem pimenta, sem temperinho erótico-exótico. Eu comi e tive sensação... nenhuma. Nunca provei algo com mais gosto de NADA em toda a minha vida. Nem faz cócegas. É de impressionar. Mas, tenho certeza que deve ser um ótimo fixador de dentaduras.

Os angolanos adouram e tem o mesmo patriotismo que os brasileiros pela feijoada. Comem até abrir o botão da calça. Coisa de cultura, não é mesmo?

Comer em Luanda de um modo geral, é uma verdadeira loucura. Nem pensar em provar espetinho de gato na rua, porque pode ser de rato.

Em compensação, aqui lagosta é bife. Tem lagosta em todo lugar e de tudo quanto é tipo: gratinada, fatiada, defumada, grelhada. Eu que curto uma cultura pop, prefiro a pizza de lagosta (com camarão do Espaço Bahia). Pizza + lagosta = combinação perfeita. Pra ficar melhor só juntando brigadeiro e Ruffles ao recheio. Fica a dica!

Agora imagine que os donos dos restaurantes internacionais em Luanda, são sempre, internacionais. Ou seja, o dono do restaurante italiano é italiano, o dono do restaurante chinês é chinês, o dono do restaurante indiano é indiano, o dono do restaurante árabe é libanês (ops) e o dono do restaurante brasileiro é baiano. Percebe a questão da autenticidade? Nada daquele Doritos com carne louca e molho de pimenta Knor que o mexicano da sua cidade serve (de sombrero). Aqui você conhece no íntimo as peculiaridades culinárias de cada país. Seu cérebro sabe que está em Angola, mas engana sua boca direitinho.
Seu nariz é quem fica meio confuso no processo.


Crédito das Fotos: Rosana da Hora

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Numa terra bué bué distante

Diz a lenda que em Angola se fala português. Eu não acredito. Pois imagine que há dois meses moro aqui e ainda não entendo uma palavra inteira do que os angolanos falam. Tenho pra mim que eles mantêm uma batata na boca, escondida do lado direito da bochecha. Ou vai ver que errados somos nós, brasileiros, que na hora de aprender o português, cuspimos a batata.

Mas não posso negar que eles têm umas expressões fan-tás-ti-cas. Eu, bem copiona, já adotei algumas no meu vocabulário, e a minha preferida é “BUÉ”. Prestatenção na sonoridade da palavra: Buuuuuéééééé! O seu significado é ainda mais impressionante. Bué quer dizer “muito”. Conta quantas vezes você fala “muito” por dia e substitui por bué. Além de ganhar um super tempo, tipo cinco milésimos de segundo por pronúncia, bué tem bué mais rimas que muito. Tipo café, fecheclé, mulé. Percebe as inúmeras possibilidades? Eu, sinceramente, fico impressionada.

Bué é minha preferida, mas existem outras, tipo “kuia”. Não existe análogo ao kuia em brasileirês, porque kuia significa rules. Tipo, quando você diz “The Wonderful Mara rules”, na tradução pro angolês fica “A Mara Maravilha kuia”. Rolou um “Como é que não pensamos nisso antes”? Pra ver como o brasileirês anda incompletinho.

Angolano também tem mania de falar russo. Ao invéz de responder “sim”, “yes” ou “si, como no?”, usam “ya”, geralmente em duplicata: “ya, ya”. E se um angolano te responder “ya, ya”, olhando prum pontinho azul no horizonte, traduza: “Nem entendi, nem tô ligando, nem tô aqui…”. É quando você, bem brasileiro, pensa: “PQP! Morri!”